Como fazer uma carta de apresentação
Entenda o que uma carta de apresentação é e o que não é, além de dicas práticas de como fazer uma carta que se destaque em meio às outras aplicações.
Olá, pessoal!
Depois de muitos pedidos, finalmente decidi escrever um artigo sobre a Carta de Apresentação.
Para ser sincera, nunca considerei esse tema como uma prioridade em meu caderno de pautas, pois aqui no Brasil é muito raro que esse documento faça parte de um processo seletivo.
No entanto, como vários leitores me enviam essa dúvida/sugestão, imagino que, de tão incomum, essa solicitação termine gerando um certo pânico nos candidatos.
Na verdade, não há nada de mais na Cover Letter, como é chamada em inglês. Pela própria tradução já dá para perceber que se trata apenas da “capa” do seu currículo: uma forma educada de enviar o seu material e também de facilitar o trabalho do RH.
Embora a chamemos de “carta”, dada a tecnologia atual é bem improvável que você a envie pelo correio de fato. É quase certo que, quando o momento chegar, ela seja enviada como anexo ou digitada no próprio corpo do e-mail. Seja como for, este artigo partirá do pressuposto que o envio será virtual.
O que a carta de apresentação NÃO é:
Um resumo ou mera repetição do seu currículo;
Um documento genérico que pode ser enviado para várias empresas.
E o que ela É?
Um teaser, uma prévia do que está por vir. O seu objetivo é despertar a curiosidade do recrutador para que queira saber mais sobre você (lendo o seu currículo e agendando uma entrevista).
Seguem então algumas dicas de como escrever uma boa carta de apresentação.
Como fazer uma carta de apresentação
1. Indique para qual vaga você está se candidatando
Em teoria, você até pode enviar essa correspondência sem que exista uma posição aberta, apenas “para apreciação”. No entanto, isso é totalmente desnecessário. As chances são de que ela nunca seja lida. Por isso, recomendo que só a utilize para se inscrever em posições específicas, de preferência quando a empresa a tiver solicitado.
Já no assunto do e-mail, escreva o código/título da vaga e também o seu próprio nome. A introdução deve ser formal, mas sem floreios. Seja claro, conciso e objetivo:
Prezado(a) Senhor(a) / Prezados Senhores / Prezado Fulano,
Meu nome é Maria Bonita e gostaria de me candidatar para a vaga de Analista de RH Pleno, anunciada no jornal Diário do Sertanejo.
Nota da editora: Para quem não conhece “Maria Bonita”, ela é presença constante aqui no VT, como no vídeo sobre como elaborar um currículo.
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2. Mostre que atende aos pré-requisitos
Leia atentamente a descrição e os pré-requisitos da vaga e destaque tudo o que estiver dentro do seu perfil:
Analista de RH Pleno
A empresa X, produtora de bebidas lácteas, busca profissional com os seguintes requisitos:
Superior completo em Administração, Psicologia ou Pedagogia;
É necessário ter inglês intermediário;
Domínio do Pacote Office;
Desejável experiência anterior em RH e conhecimentos no sistema SAP;
Pós-graduação e Espanhol serão considerados diferenciais.
Algumas das atividades a serem desempenhadas:
Realizar o treinamento de integração com os funcionários novatos;
Solicitar materiais de expediente da área e controlar o estoque;
Administração de benefícios (ticket alimentação e vale-transporte);
Relatórios gerenciais
Em seguida, munido desses dados, monte um parágrafo com os itens que tiverem mais potencial de chamar a atenção do recrutador. Aproveite para falar também de outras experiências, projetos e/ou qualificações que estejam relacionados à oportunidade.
Sou formada em Administração e tenho 2 anos de experiência em indústria de Alimentos na área de Treinamento, onde utilizo o SAP para gerar relatórios e elaborar apresentações mensais em inglês para a holding da companhia.
Dica: Não fale sobre você de forma mecânica. Conte a sua história. Escreva como se estivesse conversando com o receptor da mensagem.
3. Demonstre o quanto combina com a empresa
Dezenas, centenas ou mesmo milhares de candidatos irão se inscrever para o mesmo cargo. Muitos deles serão tão ou mais qualificados que você. Só que você não é “mais um”.
Quando você viu a vaga, teve a sensação de que ela foi feita para você. E quando você viu qual era a companhia, pensou: “Essa é a minha chance de finalmente trabalhar para essa empresa!”.
Deu para sentir o espírito da coisa? Mais que isso, você não estará apenas “falando bonito” ou jogando “palavras ao vento”. Pelo contrário, você dará exemplos práticos de como tudo isso é verdade.
Para isso, recomendo que releia a descrição da oportunidade várias vezes e que pesquise tudo o que puder sobre a organização em questão: sua cultura (histórico, missão, visão e valores), segmento em que atua e forma de trabalhar.
Note que a ideia não é “descarregar” tudo o que sabe como se estivesse respondendo a uma prova. Escolha um ou dois pontos que mais lhe fizeram brilhar os olhos, como um valor ou um projeto social. Explique porque você é apaixonado por esse setor da indústria e conte ao recrutador o que você mais admira nessa instituição e o que te faz ter interesse em trabalhar nela.
Todo esse cenário ainda está um tanto quanto “abstrato” para você? Deixa eu contar então como fiz quando me inscrevi para uma oportunidade no Canadá (lembram que no Brasil esse pedido não é comum?).
Depois de destrinchar a vaga e estudar a empresa, essas foram algumas das informações que levantei:
Eu estava me candidatando ao segmento de Telecom, o mesmo negócio em que trabalhava na época;
Tanto a companhia “nova” quanto a “antiga” seguiam um “estilo” parecido;
A vaga era voltada para alguém discreto e orientado a detalhes, características que praticamente me definem.
A partir daí, tudo o que precisei fazer foi “ligar os pontos”:
Expliquei na carta o que me fazia gostar tanto do setor, como a sua velocidade e dinamismo;
Citei alguns dos valores com que eu mais me identificava na minha contratante atual e como eu fiquei feliz de saber que eles também faziam parte do lugar em que eu pretendia ter o meu próximo desafio;
Descrevi de forma breve a minha experiência em lidar com informações confidenciais (por trabalhar com RH) e dei o exemplo de um projeto que demandou bastante planejamento e minúcias para ser concluído.
A carta terminou muito mais longa do que qualquer especialista em RH recomendaria. Entretanto, a vida real não é feita de “fórmulas”, mas de situações únicas. Ora, aquela função era destinada a alguém orientado a detalhes. No final, a minha carta foi tão cuidadosa e meticulosamente escrita que por si só já foi suficiente para indicar que eu possuía o perfil desejado.
4. Coloque-se à disposição
A essa altura, você já mostrou as suas competências, motivação e interesse e só lhe resta esperar pelo retorno. O que você pode fazer aqui é mostrar que está totalmente disponível (para esclarecimentos, início imediato, mudança, viagens etc) e que pode ser facilmente encontrado (relacionando todos os seus contatos).
Segue um exemplo de conclusão:
Informo ainda que tenho total disponibilidade para viagens e para início imediato.
Estou à disposição e aguardo a oportunidade de contar um pouco mais sobre as minhas experiências e conhecer mais detalhes sobre a vaga.
Atenciosamente / Grata pela atenção,
Maria Bonita
maria.bonita@e-mail.com
(99) 9999-1234 / (99) 5555-1234
5. Revise, Revise, Revise
Carta concluída, agora vem a parte mais longa, trabalhosa e aborrecida. Eu sei que é chato, mas a fase de revisão é decisiva. É ela que irá lhe diferenciar dos demais. E eu não estou falando apenas de ortografia e gramática. Abaixo, listo 3 perguntas a serem ponderadas antes de clicar no botão “enviar”.
Cometi erros de Português?
Erros de português na carta são uma garantia de que o recrutador NÃO irá lhe convidar para uma entrevista. Mesmo que não haja gafes, o texto precisa estar bem diagramado, ter uma “lógica” (coesão e coerência) e seguir uma sequência (introdução, desenvolvimento e conclusão). Portanto, releia a mensagem várias vezes e, se puder, peça para algum colega conferir e dar a sua opinião.
Falei demais?
Em geral, recomenda-se que carta tenha até 4 parágrafos, o que, como mostrado no artigo, nem sempre se aplica. No entanto, se for para se estender um pouco mais, que seja pelo conteúdo em si, e não pela falta de objetividade, pois o mundo corporativo precisa de pessoas com poder de síntese.
Além disso, é preciso ter cuidado para não terminar falando o que não deve. Esse não é o momento de explicar porque você foi demitido ou porque deseja sair da empresa atual, nem tão pouco de escrever detalhes sobre a sua vida particular. Atenha-se apenas a aspectos positivos de sua carreira.
A minha carta irá se destacar na “multidão”?
Uma carta de apresentação bem escrita é aquela que se distingue claramente das outras. Não necessariamente por descrever um profissional “melhor” ou mais adequado ao perfil, mas por ser única. Um documento como esse jamais deve ser impessoal.
Pesquisando sobre o tema, encontrei vários modelos absolutamente frios, constituídos basicamente pela área de atuação do profissional e uma lista interminável de adjetivos (dinâmico, criativo, organizado, proativo etc). Trata-se de um marketing pessoal vazio e sem significado (já falei sobre isso no artigo Entrevistas: Quais são os seus pontos fortes?).
Não se limite a “qualidades”: dê exemplos. Não se prenda a “modelos” e padrões: crie o seu próprio formato. Fuja do lugar comum. Seja sincero e autêntico.
Pode até ser que no fim você não seja selecionado para a vaga, mas certamente terá deixado a sua marca e uma ótima impressão no recrutador, que poderá lhe convidar para futuras oportunidades…
E você, ? Já participou de algum processo que pediu uma carta de apresentação? Como foi a experiência? Conta nos comentários!
Até mais!
Cíntia Reinaux