Em busca da qualidade de vida
Morar longe da família, trabalhar horas além da jornada, tantos sacrifícios e para quê? Ser gerente daqui a alguns anos? Será que vale a pena?

Artigo publicado originalmente no portal ClickCarreira, que já não existe mais.
Desde os tempos de estágio, sempre passei do horário nas empresas em que trabalhei. Com uma ressalva: eu passava do horário porque eu queria. Houve uma empresa em que eu gostava tanto do ambiente de trabalho e das minhas atividades que simplesmente não queria ir embora.
Não que eu fosse uma workaholic. Eu não saía tarde da empresa, apenas saía na mesma hora que os demais funcionários, em vez de duas horas mais cedo, como os outros estagiários. Para mim era ótimo. Eu usava essas duas horas adicionais para desenvolver projetos de melhoria e para oferecer ajuda em outros projetos, o que me permitia trabalhar com várias equipes. Hoje percebo que o que eu aprendi nesse período não tem preço.
No Canadá, por outro lado, aprendi a valorizar a qualidade de vida. Nos dias quentes de verão – tão raros por lá – acompanhava o ritmo dos meus colegas, saindo do trabalho antes das 16h. Só para aproveitar aquele dia tão bonito e pisar descalça na grama ou andar de bicicleta em um dos inúmeros parques da cidade.
De volta ao Brasil, conheci outra realidade, na sempre apressada São Paulo. Passei a ficar muitas horas além do horário de trabalho, não mais para desenvolver algo novo, e sim para tentar dar conta do básico que eu não conseguia fazer dentro do horário normal. Sobrecarga de atividades, pressão por prazos e um ambiente que não permitia o erro passaram a fazer parte da minha rotina.
Em pouco tempo, o desgaste físico e emocional era evidente: "Não mato o trabalho. O trabalho é que me mata", como bem colocou Cristiane Segatto em sua coluna da Época, em uma adaptação da frase "Não mato aula. A aula é que me mata". Acho que esse é o retrato do que acontece com muitas pessoas no mundo corporativo.
Passei então a refletir bastante sobre o peso da carreira em minha vida. Deveria mesmo ser esse o foco? Tantos sacrifícios... Morar longe da família e dos amigos, fazer um esforço descomunal no trabalho, tudo isso para quê? Para ser gerente daqui a alguns anos? CEO da companhia?
Comecei a considerar se era isso mesmo o que eu queria. Afinal, se esse fosse mesmo o meu sonho, tudo valeria a pena. E foi então que percebi que o que eu mais quero é estar perto das pessoas que amo e ter qualidade de vida para, além do trabalho, poder desfrutar de bons momentos e ter a liberdade de me envolver em outras atividades pelas quais tenho paixão, como o trabalho voluntário por exemplo.
E foi por isso que eu decidi inverter o jogo e “matar o trabalho”. Ou, melhor dizendo, larguei tudo em São Paulo e voltei para Recife. O futuro ainda está bastante incerto. Começar de novo é sempre um grande desafio. Mas, de algum jeito, a leve brisa do mar, enquanto sinto meus pés descalços na areia, traz consigo aquela sensação indescritível de que tudo vai dar certo.