Admirável mundo novo
As escolas seriam bem diferentes se soubessem aproveitar o sucesso de uma banda de rock para aproximar estudantes de obras de Huxley e Shakespeare.
*Artigo publicado originalmente no blog Foco em Gerações, que já não existe mais.
O que uma música de Rock, um clássico da ficção adaptado para o cinema e uma peça de Shakespeare têm em comum? Elementar, meu caro Boomer: todos giram em torno de um suposto “Admirável Mundo Novo” (Brave New World no original). Trata-se da fala de uma personagem da peça “A Tempestade“, do dramaturgo inglês, que deu nome ao cultuado livro de Aldous Huxley, de 1932, e por sua vez inspirou o single “Admirável Chip Novo“, da banda Pitty, lançado em álbum homônimo em 2003.
Pane no sistema, alguém me desconfigurou
Aonde estão meus olhos de robô?
Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivoParafuso e fluído em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico, é tudo programado
E eu achando que tinha me libertadoMas lá vem eles novamente
Eu sei o que vão fazer
Reinstalar o sistema
Não é novidade que o mundo hoje está cada vez mais conectado, mas o que muitos não percebem é que identificar os links existentes entre assuntos os mais variados é um bom jeito de começar a entender como funciona o cérebro dos jovens Y.
Não é que eles sejam dispersos, distraídos, desatentos. É preciso lembrar que esses jovens nasceram e aprenderam a pensar em uma sociedade em que as informações transbordam por todos os lados e há sempre uma ligação entre filmes, livros, tecnologia e outras formas de arte e cultura em geral.
Assim, a mente dessa nova geração trabalha em um frenesi intenso de associações. Não é à toa que às vezes chega mesmo a ser difícil acompanhar uma conversa entre jovens, na qual todos falam ao mesmo tempo e o assunto salta de música para genética em questão de segundos.
Mas não se engane: tudo está relacionado. Para uma pessoa de outra geração, a conversa “perdeu o foco”. Já para o jovem Y, o papo está interessante e envolvente.
O fato é que nem as empresas nem o nosso sistema de ensino estão preparados para acompanhar essa forma não-linear (e mesmo fragmentada) de pensamento. Não há dúvidas de que as escolas seriam bem diferentes se soubessem aproveitar oportunidades como o sucesso de uma banda de rock para aproximar estudantes de obras relevantes de autores como Huxley ou Shakespeare.
Já as organizações também têm muito a ganhar ao trabalhar essa característica da geração Y. Afinal, é a partir de associações inusitadas que surgem as ideias mais inovadoras. Cabe aos gestores mais experientes dar liberdade para todo esse pensamento criativo fluir e sempre orientar os jovens para que não percam, de fato, o foco.
E você? Está preparado para embarcar nesse admirável mundo novo?
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Cíntia Reinaux tem 26 anos e um orgulho danado de ser pernambucana. Irmã coruja, tem sua paciência constantemente testada por um adolescente da geração Z. Administradora apaixonada por RH, nas horas vagas escreve sobre o dia-a-dia dos jovens Y em sua busca por um lugar no mercado de trabalho, no blog Vida de Trainee.